Palavras importam — e o jeito como vemos quem nos procura também.

“Você está comprando um serviço ou se abrindo para um cuidado?”
Essa pergunta pode parecer simples, mas carrega uma profundidade enorme quando falamos de psicoterapia.

Na psicologia, há um debate antigo entre chamar de “paciente” ou “cliente” quem busca atendimento terapêutico. E essa escolha não é apenas uma questão de estilo. Ela revela como cada profissional compreende a pessoa que senta à sua frente, entrega sua dor e busca um espaço de escuta.

❝ Na minha prática, chamo de paciente. Porque vejo alguém que sofre, que confia em mim sua história, e que está disposto a se cuidar — não alguém que simplesmente “compra um serviço”. ❞

Quando penso sobre o lugar de quem chega até mim para fazer psicoterapia…

O termo que mais faz sentido pra mim é “paciente”. Não por seguir cegamente o modelo médico, mas porque carrega, para mim, a ideia de alguém que sofre, que busca cuidado, que se permite ser olhado — e não apenas alguém que compra um serviço.

A psicoterapia é um espaço de escuta, comprometimento e transformação — que exige responsabilidade, não garantia de entrega.

Entre autonomia e cuidado: o que dizem os teóricos?

Autores como Carl Rogers (1951) adotaram o termo “cliente” para romper com o modelo médico tradicional. Na abordagem centrada na pessoa, o indivíduo é ativo, dono do próprio processo, e o terapeuta não é visto como um especialista que “cura”, mas como um facilitador do crescimento.

Mas o que observo na minha prática é que o termo “cliente” também traz armadilhas. Ele pode dar a entender que a psicoterapia é um serviço comum, que deve entregar um “resultado” de forma quase garantida. E isso não condiz com o que vivemos na clínica. Psicoterapia não é produto. Não é troca direta. E mais importante: não depende apenas do terapeuta.

Vejo muitos pacientes que chegam cheios de expectativas, e tudo bem ter expectativas. Mas é importante dizer: não é o psicólogo que entrega o objetivo terapêutico. É o paciente que, junto com o terapeuta, se envolve, se responsabiliza e caminha. Se a pessoa não se compromete com o processo, com o que sente, com o que pensa, com o que faz — não há caminho mágico que funcione.

O risco de transformar o cuidado em consumo

Essa diferença entre chamar de paciente ou cliente não é só uma questão de gosto ou de costume. Ela carrega uma série de implicações éticas, políticas e até afetivas. Quem é essa pessoa que se senta diante de nós? Ela está apenas comprando uma hora do nosso tempo? Ou ela está abrindo sua história, suas dores, e confiando a nós aquilo que muitas vezes nunca disse a ninguém?

No meu modo de trabalhar, eu entendo que há um sofrimento em jogo. E esse sofrimento merece ser cuidado com responsabilidade. E é por isso que o termo “paciente” continua fazendo sentido pra mim. Não no sentido de alguém passivo, como no modelo médico antigo, mas como alguém que está em um processo. Um processo que exige tempo, entrega, escuta e, principalmente, disposição de se responsabilizar pela própria mudança.

E a visão de outras abordagens?

Apesar de toda essa reflexão, reconheço que o termo “cliente” ganhou espaço na psicologia justamente por trazer um olhar diferente sobre essa relação. Ele enfatiza a autonomia da pessoa, seu protagonismo no processo terapêutico. Como defende Carl Rogers, a psicoterapia é uma parceria, e quem busca ajuda não é um sujeito passivo, mas um participante ativo que tem voz e escolhas.

Porém, essa ênfase na autonomia não deve levar à simplificação da psicoterapia como uma transação comercial. O risco está em transformar o vínculo terapêutico numa relação de consumo, onde o “cliente” espera um produto pronto, uma solução garantida — e quando isso não acontece, pode surgir frustração e até indignação.

Na prática, o que observo é que o processo é muito mais complexo. A psicoterapia não é uma entrega unilateral, nem uma fórmula mágica. É um caminho construído a duas vozes, e a responsabilidade maior está na pessoa que procura o cuidado, que precisa se comprometer com suas reflexões, suas ações, mesmo quando isso dói.

O que diz a literatura?

Ao longo das décadas, vários autores refletiram sobre essa dualidade entre “paciente” e “cliente”. Carl Rogers, como já mencionei, foi um dos pioneiros a usar “cliente” para dar voz à autonomia do sujeito. Para ele, a psicoterapia deve ser um ambiente onde a pessoa se sinta aceita e compreendida, sem julgamentos, e onde ela mesma encontre seu caminho para a mudança.

Por outro lado, correntes psicanalíticas e humanistas mais tradicionais ainda usam “paciente” porque reconhecem que há uma dimensão de sofrimento profundo, de adoecimento emocional, que exige acolhimento, cuidado e uma postura ética que vai além de uma simples relação de consumo.

Além disso, autores como Irvin Yalom, que focam na psicoterapia existencial, ressaltam que o vínculo terapêutico é um espaço de confiança e vulnerabilidade, algo que dificilmente se encaixa na ideia de “cliente” em uma transação comercial. Para Yalom, o terapeuta e o paciente criam juntos um espaço de encontro, onde o crescimento acontece a partir dessa relação singular.

Eu, pessoalmente, concordo com essa visão. A psicoterapia é um espaço delicado, onde se abre o que muitas vezes está guardado, e é por isso que a palavra “paciente” me parece mais justa, porque reconhece essa profundidade e complexidade.

Psicologia cognitivo-comportamental e o uso de “cliente”

Outra visão interessante vem da psicologia cognitivo-comportamental, que muitas vezes prefere o termo “cliente” justamente por valorizar o papel ativo da pessoa no processo. Nessa abordagem, a psicoterapia é vista como uma colaboração prática, focada em metas claras e técnicas específicas, onde quem busca ajuda tem um papel decisivo em aplicar estratégias no dia a dia para alcançar mudanças concretas.

Porém, mesmo nesse modelo, há o reconhecimento de que o compromisso do indivíduo é fundamental. O terapeuta pode oferecer ferramentas, mas sem a participação efetiva da pessoa, os resultados ficam limitados. Isso reforça que, independentemente do termo usado, a responsabilidade compartilhada é essencial.

Posicionamento ético e institucional

No campo da ética profissional, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) no Brasil não impõe um termo fixo para designar quem recebe atendimento, deixando ao critério do profissional a escolha que melhor representa sua prática e sua visão de mundo. Essa liberdade reflete a complexidade do trabalho psicológico e a necessidade de respeitar as diferentes abordagens e contextos.

O que realmente importa?

Mais do que ficar preso a termos — seja “paciente” ou “cliente” — o que realmente sustenta o trabalho terapêutico é o respeito profundo pela história, pela dor e pela luta de cada pessoa que atravessa a porta do consultório. Não importa o nome que damos, mas o cuidado genuíno, a escuta atenta e a responsabilidade compartilhada que envolve cada processo.

A relação terapêutica não é uma simples transação comercial, nem um contrato onde se compra um produto pronto. É uma caminhada conjunta, muitas vezes cheia de desafios, de enfrentamentos internos, de resistências e descobertas. E é justamente essa complexidade que faz da psicoterapia um espaço único e transformador.

❝ Por isso, na minha prática, eu escolho chamar quem me procura de “paciente”, porque vejo além do serviço oferecido. Vejo uma pessoa em processo, com uma história, um sofrimento, uma coragem para mudar — e isso merece ser tratado com cuidado, ética e respeito, sempre. ❞

No fim das contas, o que importa não é o rótulo, mas a qualidade do encontro, a confiança estabelecida e o compromisso mútuo com a mudança verdadeira.

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